UM
QUEBRA CABEÇA A SER MONTADO: O SUJEITO PÓS-TRAUMATICO
Maria
Aparecida de Azevedo
Na atual sociedade a concepção do sujeito “pós-traumático”,
que vive em um estado trauma permanente devido às inúmeras violações e
agressões sofridas em seu inconsciente, foi sendo construída gradativamente pelo
capitalismo globalizado para poder exercer maior controle sobre uma determinada
parcela da população que além de perder os meios de produção, a sua única
mercadoria que é a força de trabalho, tão necessária em momentos anteriores do
processo de civilização, perdeu seu valor, não tendo mais tem valor para o
capital, pois está sendo substituída gradativamente por máquinas, pela
tecnologia. O trabalho vivo do sujeito não tem mais valor e nem produz mais
valia que possa interessar a atual conjuntura econômica. O sujeito
pós-traumático faz parte da população separada, quantificada, massificada, sem
identidade, sem historia, sem memória, para melhor controle do biopoder, é o sujeito criado pela pós- modernidade, tendo
como característica fundamental a ausência de uma identidade individual, de uma
subjetividade.
O
sujeito pós-traumático tem seu corpo, entretanto, não detém nenhum poder sobre
sua vida, não fazendo parte de sua vida a tão falada liberdade de escolha, pois
já nasceram separados em agrupamentos controlados pela tecnologia, onde se pode
prever o que irá acontecer. É uma tecnologia que visa, portanto não o
adestramento individual conseguido através da disciplina, mas visa à harmonia
do conjunto como um todo. Os moradores das favelas são perigosos, ameaçadores,
e faz-se necessário que seja utilizado todo um aparato estatal para conte-los
em nome da manutenção da ordem. São os sujeitos que foram selecionados pelo
capitalismo globalizado e feroz como futuros clientes do sistema carcerário do
Estado, sendo necessário então, serem visto como ameaçadores a manutenção da
ordem vigente pelo capital, pois não produzem e nem consomem as mercadorias produzidas
pelo sistema capitalista e estão a margem dos direitos legalmente constituídos
na Constituição e na Legislação.
Essa população
são os moradores das periferias e das favelas
não importando em qual Pais do mundo se encontrem, pois a globalização faz com
que todos pareçam uma “coisa só”, um coletivo sem nome, sem endereço,sem
identidade individual, sendo então reduzidos a homo sacer, onde identificamos nitidamente a biopolítica em ação
e fazendo seu controle social, pois a população destes locais foram separados
para serem descartáveis da sociedade a qualquer momento. A população é tanto
alvo como instrumento em uma relação de poder, pois são eles, os moradores das
favelas e das periferias os alvos das ações humanitárias, das políticas
públicas focalizadas, seletivas, discriminatórias e compensatórias que não tem
sua identidade individual reconhecida. Ao invés de penalizar apenas um individuo, penaliza-se
uma massa de seres humanos para serem catalogados, quantificados, selecionados
para serem separados da sociedade pela atual tecnologia de regulamentação. São
os “mortos vivos” criados pelo neoliberalismo globalizado, descartáveis,
supérfluos, onde a disciplina foi substituída pela lógica do controle. Não são úteis socialmente, pois não são
produtores e muito menos consumidores das mercadorias, sendo ele próprio uma
mercadoria fetichizada, sem subjetividade, totalmente descartável pela
pós-modernidade. É o biopoder e a biopolitica em
ação.
Visando
escapar ao sofrimento e ao desprazer o homem
sacer, o sujeito pós-traumático
lança mão das estratégias de
sobrevivência na utilização de substancias químicas como bebidas, cigarros,
drogas, sexo, se apegam a religiosidade,
ao futebol, a televisão e aos meios de comunicação em geral buscando encontrar
na relação com o outro sua identidade há muito perdida, objetivando desta forma, um resgate de sua
historia, de sua identidade então esfacelada e fragmentada pela biopolitica,
que combate não o sujeito individual, mas ao homem já quantificado e
selecionado pelo biopoder para ser eliminado, tirado de circulação, pelo Estado
de Exceção pois sua vida não tem valor para o sistema neoliberal em vigor.
Enfim, são
seres constituídos e construídos no que se tornou a sociedade pós-moderna, onde
poucos são absorvidos pelo sistema capitalista neoliberal que é tão cínico, que
nos faz pensar que “todos são iguais perante a Lei” e” todos são sujeitos de
direitos”.
Referências
Material
disponibilizado no curso Dimensões da Humanização, Filosofia, Psicanálise,
Medicina, disciplina: Humanização e Desumanização, Professores: Professores Claudia Murta e Bruno Gadelha, Módulos
I, II, III, disponível em
http://www.especializacao.aperfeicoamento.ufes.br/course/view.php?id=91,
acesso em 01/05/2015.