terça-feira, 5 de maio de 2015

Falaremos a seguir sobre um tema atual, porém, pouco difundido na sociedade: Sujeito pós-traumático.

O que seria? Como se caracteriza?

A sociedade precisa saber defender-se das mazelas psicológicas, o sujeito-pós traumático pode estar em constante trauma, devido à péssimas condições de vida, a não atenção à sua saúde como deveria e gostaria, à sociedade injusta e classista, ao capitalismo desenfreado e contudo, ao tratamento do ser humano de forma desumanizada!

- Será mesmo que temos poucos casos de sujeitos pós-traumáticos como cita no artigo? Cabe a reflexão.

Artigo: Transtorno de estresse pós-traumático: o enfoque psicanalítico
UM QUEBRA CABEÇA A SER MONTADO: O SUJEITO PÓS-TRAUMATICO
Maria Aparecida de Azevedo[1]

Na atual sociedade a concepção do sujeito “pós-traumático”, que vive em um estado trauma permanente devido às inúmeras violações e agressões sofridas em seu inconsciente, foi sendo construída gradativamente pelo capitalismo globalizado para poder exercer maior controle sobre uma determinada parcela da população que além de perder os meios de produção, a sua única mercadoria que é a força de trabalho, tão necessária em momentos anteriores do processo de civilização, perdeu seu valor, não tendo mais tem valor para o capital, pois está sendo substituída gradativamente por máquinas, pela tecnologia. O trabalho vivo do sujeito não tem mais valor e nem produz mais valia que possa interessar a atual conjuntura econômica. O sujeito pós-traumático faz parte da população separada, quantificada, massificada, sem identidade, sem historia, sem memória, para melhor controle do biopoder, é o sujeito criado pela pós- modernidade, tendo como característica fundamental a ausência de uma identidade individual, de uma subjetividade.
O sujeito pós-traumático tem seu corpo, entretanto, não detém nenhum poder sobre sua vida, não fazendo parte de sua vida a tão falada liberdade de escolha, pois já nasceram separados em agrupamentos controlados pela tecnologia, onde se pode prever o que irá acontecer. É uma tecnologia que visa, portanto não o adestramento individual conseguido através da disciplina, mas visa à harmonia do conjunto como um todo. Os moradores das favelas são perigosos, ameaçadores, e faz-se necessário que seja utilizado todo um aparato estatal para conte-los em nome da manutenção da ordem. São os sujeitos que foram selecionados pelo capitalismo globalizado e feroz como futuros clientes do sistema carcerário do Estado, sendo necessário então, serem visto como ameaçadores a manutenção da ordem vigente pelo capital, pois não produzem e nem consomem as mercadorias produzidas pelo sistema capitalista e estão a margem dos direitos legalmente constituídos na Constituição e na Legislação.
Essa população são os moradores das periferias e das favelas não importando em qual Pais do mundo se encontrem, pois a globalização faz com que todos pareçam uma “coisa só”, um coletivo sem nome, sem endereço,sem identidade individual, sendo então reduzidos a homo sacer, onde identificamos nitidamente a biopolítica em ação e fazendo seu controle social, pois a população destes locais foram separados para serem descartáveis da sociedade a qualquer momento. A população é tanto alvo como instrumento em uma relação de poder, pois são eles, os moradores das favelas e das periferias os alvos das ações humanitárias, das políticas públicas focalizadas, seletivas, discriminatórias e compensatórias que não tem sua identidade individual reconhecida.  Ao invés de penalizar apenas um individuo, penaliza-se uma massa de seres humanos para serem catalogados, quantificados, selecionados para serem separados da sociedade pela atual tecnologia de regulamentação. São os “mortos vivos” criados pelo neoliberalismo globalizado, descartáveis, supérfluos, onde a disciplina foi substituída pela lógica do controle.  Não são úteis socialmente, pois não são produtores e muito menos consumidores das mercadorias, sendo ele próprio uma mercadoria fetichizada, sem subjetividade, totalmente descartável pela pós-modernidade. É o biopoder e a biopolitica em ação.

Visando escapar ao sofrimento e ao desprazer o homem sacer, o sujeito pós-traumático  lança  mão das estratégias de sobrevivência na utilização de substancias químicas como bebidas, cigarros, drogas, sexo,  se apegam a religiosidade, ao futebol, a televisão e aos meios de comunicação em geral buscando encontrar na relação com o outro sua identidade há muito perdida,  objetivando desta forma, um resgate de sua historia, de sua identidade então esfacelada e fragmentada pela biopolitica, que combate não o sujeito individual, mas ao homem já quantificado e selecionado pelo biopoder para ser eliminado, tirado de circulação, pelo Estado de Exceção pois sua vida não tem valor para o sistema neoliberal em vigor.

Enfim, são seres constituídos e construídos no que se tornou a sociedade pós-moderna, onde poucos são absorvidos pelo sistema capitalista neoliberal que é tão cínico, que nos faz pensar que “todos são iguais perante a Lei” e” todos são sujeitos de direitos”.

Referências
Material disponibilizado no curso Dimensões da Humanização, Filosofia, Psicanálise, Medicina, disciplina: Humanização e Desumanização, Professores: Professores Claudia Murta e Bruno Gadelha, Módulos I, II, III, disponível em http://www.especializacao.aperfeicoamento.ufes.br/course/view.php?id=91, acesso em 01/05/2015.




[1] Assistente Social- aluna do Departamento de Filosofia do Centro de Ciências Humanas e Naturais / Núcleo de Educação Aberta e a Distância/ UFES, do Curso de Aperfeiçoamento em Dimensões da Humanização: Filosofia, Psicanálise, Medicina, - UFES. Email: mapeazgma@il.com
Dentre os diversos modos de trauma, destaco a violência contra a mulher, como sendo uma das mazelas mais atuantes na sociedade moderna, mesmo com tanta evolução, globalização, defensoria dos direitos, ainda vemos todos os dias relatos/ casos desse tipo de violência em nossa sociedade.
Assim, as mulheres podem ser observadas e encaradas como o homo sacer da sociedade, aquela que não tem como se defender, mudar e/ou ir ao encontro de seus ideais, ser respeitada e valorizada. Seus ideais e anseios são esquecidos e não são tidos pela sociedade como fundamentais. 
Dessa forma, o homo sacer, se iguala na perspectiva do sujeito-pós traumático, sendo visto apenas como "capa/ corpo", não sendo observado e encarado como ser. 

O que podemos observar também no artigo abaixo, é a questão da desigualdade social, onde o indivíduo menos favorecido, na maioria das vezes, sofre mais frente às injustiças criadas e impostas como "normais"/ passíveis de solução, pela sociedade.

Coloco abaixo o artigo que relata um pouco sobre esse sujeito pós-traumático/ homo sacer e uma tabela descrevendo os principais sintomas sentidos por essas mulheres violentadas.






Polyana Romano Oliosa - Estudante do curso Dimensões da Humanização; Filosofia, Psicanálise, Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo.